domingo, 3 de abril de 2016

compreensão depois do caos

imagem via pixabay


A morte. Relação de quase medo, surda, muda. Relâmpago rasgando o chão. Depois, a calma aparente se esgotando em cansaço novo. Hoje me veio a palavra do dia, e é dela que não preciso correr ou me esconder para escapar.
Descendo a rua, intacta, por dois ou mais um quarteirão até chegar ao café mais próximo da esquina; cheiro morno passando pela narina congestionada de frio e alergia crônica. Vai leve, criando atos e pensando em como se afastar deste esforço contínuo de entender o que nem sabe falar.
Uma fatalidade e uma grande vergonha; receio de chegar e não saber do lugar. Aonde? Alguém aí? Ou já estou sozinha, eu na infinita estrada de um mundo solitário? Ela olha o medo que vem chegando com um arrepio forte na espinha alongada e espalhada naquele lugar novo e rústico para uma estreante.
Não que seja o caos. Ou já é. Porque para falar do caos é necessário um silêncio agudo e a fragmentação do ser – quebrando, estalando, tilintando como vidro esbagaçado num chão branco quase transparente. O entendimento das partes novas e gastas. Quem sabe há a junção destes fragmentos bem miudinhos que agora formam a nova coisa dentro e fora da gente – para quem se desfragmentou – para falar da vida que vem ostentando o grito corpulento e quente de um recém-nascido.
Juntar o que está fora e trazer mais para dentro, para o centro do mundo. "Dai-me a força para entender essa compreensão necessária, intensa e tempestiva que é esparsa e se enraíza dentro do meu corpo..." – essa é a minha prece, se é que há o merecimento dessa compaixão e perdão. É que ouço tão pouco, sou omissa, rebelde, quase dona de mim. Quase, quase tantas coisas, e o meio-termo não me convém e me mata. É início e fim.
É que minha relação com a morte é de um fascínio tremendo. Não tenho medos. Miro um feixe que se estende desde o dia em que nasci e me eleva até agora, ao alto, ao alto... É a atração de dois seres que acenam e se chamam com devoção e paixão; dividem uma intimidade intocável. É a explosão dos atos.
Espera, é a implosão. Falo do momento, da exatidão, da ruptura. Sabe o segundo exato da passagem? É nisto que me detenho, sem retirar ou acrescentar nada. O que está próximo e distante e agora se une ao mesmo ponto infinito: ficar e partir.
A partir de uma palavra surge o que me agrava e me expele ao mundo.



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