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Se
existe algum mistério no mundo, para mim, o próprio mistério sou Eu. Como pode
alguém sentir céus e infernos dentro de si? Aí está a minha maior confissão.
Mas tenho
mais a confessar do que imagino, embora ainda não saiba relatar todos os meus
pecados de uma só vez. Necessito de pausas. E de uma coisa tenho consciência: que eles - todos os meus pecados - estão alvoroçados dentro da minha alma e vivem
também como eu.
Ainda
tenho outra confissão maior que está aqui comigo: não quero apenas passar pela
vida, sem brilho, sem entusiasmo. Como é difícil fazer algo fora dessa prisão.
Como sair? Até bem pouco tempo eu não sabia o que significava a grande prisão.
Só aos poucos, a visão se tornava cada vez mais líquida. A grande prisão de que
falo é não poder sair da vida para olhar ao redor o que nos move com força.
E como
se sai da vida em direção ao infinito? Isso eu nunca soube responder, aliás,
nunca tive resposta alguma. Mas há pessoas que parecem ter a resposta. E por
que elas não me diriam? Por que é sempre muito difícil revelar segredos impossíveis.
Às
vezes pensamos que nossas histórias são únicas, impares como o firmamento. Mas,
não. Eu que não tenho mais esse engano. A verdade é que todas as pessoas
sofrem, se inquietam, enlouquecem todos os dias. Estão aqui para tudo isso. É
uma percepção que me atravessa faz provar dessa suprema verdade.
É
difícil saber quem se é, ter essa extrema e peculiar noção de si, do ser que reveste
o corpo. Clarice Lispector não sabia quem ela era de verdade, acredito mesmo
que nunca teve uma visão tão apurada das verdades sobre si. Eu também não, e
sou tão diferente dela, e ao mesmo tempo me deixo confundir com sua percepção
cortante de si mesma.
Só não
quero nem desejo provar do que sempre compreendo da vida. Quero ser como a
areia-poeira, assim, um corpo-poeira, para me desfazer de qualquer coisa que
agrida meu espírito. Quero viver, isto sim.