quinta-feira, 2 de junho de 2016

não é tão difícil despertencer

imagem via pixabay


O mais difícil é fazer da vida que se leva algo que ultrapasse os dias normais, quando se tem necessidade de voar, não-estar, despertencer, desconstruir e alcançar o mais alto voo.

Contentamentos ininterruptos, gritos de completude, uma obra de arte acabada de si. Como fazer? Somos ainda tão incompletos e sobrevivemos disso tudo, deixando apenas que as ondas passem pelos nossos olhos pasmos.

Quando se persegue o estado de graça parece que a luta é maior do que se imagina, porque o encantamento está muito mais nas pequenas coisas que deixamos passar ao longo dos dias. Sim, no minúsculo grão de areia que forma grandes véus na praia ou no deserto ao fim da tarde ou perante o sol do meio dia; no canto alto dos pássaros rompendo as manhãs; no abraço caloroso do amigo que não se vê desde ontem; no sorriso de um estranho ao cruzar a rua; no aceno despido de segundas intenções; nos gestos  nobres que podemos nos apropriar com mais frequência; no que é substancialmente nosso e ainda falta descobrir.

Nas raras entrelinhas expostas dentro da gente podemos encontrar tudo o que nos faz bem e que, até certo momento na vida, entendemos que é a felicidade. Um clarão que vem para nos fazer acreditar e instigar a querer viver mais, um dia de cada vez, com direito a café da manhã, almoço, jantar e até algumas doses extras de alguma novidade. Talvez este seja o sabor que surpreende, quando não temos hora marcada, nem está descrito no cardápio com todos os detalhes.

Fala-se muito em paisagens paradisíacas, daqueles lugares que o mundo poderia acabar, e embora estivéssemos lá no momento morreríamos rindo à toa com o rosto voltado para o horizonte, sem pressa nenhuma para alguma chegada, pois os nossos pés já estariam lá, isso bastaria.

Com tudo isso podemos criar incontáveis paisagens dentro da gente, para que nossos dias também sejam lugares únicos para quem está ao nosso redor, para que sejam dias inspiradores.


São os meus dias, nossos dias criados e inventados, onde tudo o que é permitido faz todo sentido.

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