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O mais difícil é fazer da vida que se
leva algo que ultrapasse os dias normais, quando se tem necessidade de voar,
não-estar, despertencer, desconstruir e alcançar o mais alto voo.
Contentamentos ininterruptos, gritos de completude, uma obra de arte acabada
de si. Como fazer? Somos ainda tão incompletos e sobrevivemos disso tudo,
deixando apenas que as ondas passem pelos nossos olhos pasmos.
Quando se persegue o estado de graça
parece que a luta é maior do que se imagina, porque o
encantamento está muito mais nas pequenas coisas que deixamos passar ao longo
dos dias. Sim, no minúsculo grão de areia que forma grandes véus na praia ou no
deserto ao fim da tarde ou perante o sol do meio dia; no canto
alto dos pássaros rompendo as manhãs; no abraço caloroso do amigo que não
se vê desde ontem; no sorriso de um estranho ao cruzar a rua; no aceno despido
de segundas intenções; nos gestos nobres que podemos nos apropriar com
mais frequência; no que é substancialmente nosso e ainda falta descobrir.
Nas raras entrelinhas expostas dentro
da gente podemos encontrar tudo o que nos faz bem e que, até certo momento na
vida, entendemos que é a felicidade. Um clarão que vem para nos fazer acreditar
e instigar a querer viver mais, um dia de cada vez, com direito a café da
manhã, almoço, jantar e até algumas doses extras de alguma novidade. Talvez este
seja o sabor que surpreende, quando não temos hora marcada, nem está descrito
no cardápio com todos os detalhes.
Fala-se muito em paisagens paradisíacas,
daqueles lugares que o mundo poderia acabar, e embora estivéssemos lá no momento morreríamos
rindo à toa com o rosto voltado para o horizonte, sem pressa nenhuma para alguma
chegada, pois os nossos pés já estariam lá, isso bastaria.
Com tudo isso podemos criar incontáveis
paisagens dentro da gente, para que nossos dias também sejam lugares
únicos para quem está ao nosso redor, para que sejam dias inspiradores.
São os meus dias, nossos dias criados
e inventados, onde tudo o que é permitido faz todo sentido.
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