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Se eu ainda fosse criança e me
perguntassem o que eu gostaria de ganhar hoje diria que o que mais desejo e
quero ganhar hoje é a compreensão do mundo.
Não saberia, com certeza, que compreensão
seria essa que pedi, seria somente a compreensão de alguma coisa que me
inquieta. Essa mesma coisa por quem me debato todos os dias para pegá-la de
surpresa como um mosquito que zune ao canto do meu olho, quase entrando no
mundo paralelo dos meus ouvidos e que me incomoda terrivelmente. Canta,
resmunga, fala o que não posso entender. É sua linguagem que não se encontra com
a minha e aí não tem jeito porque não há o entendimento entre os dois, o
mosquitinho e eu. Serei entendida, ou será impossível juntar o que vou dizer ao
mundo?
Tenho minha imensidão criança e adulta
ao mesmo tempo, e às vezes me afogo diante da devastação das duas quando trazem
coisas que vivencio pela primeira vez. Ela, essa criança hospedada, costuma pegar meus braços ainda
ingênuos e sai juntando todos aqueles brinquedos espalhados pelo meu tempo,
porque ela sabe que eles ainda são tão vivos que encantam minhas histórias e
vestem meus personagens.
Sei que você que está lendo agora
acabou de se lembrar de um dos seus personagens, que criou justamente para
juntar um pouco desse sentido e dessa compreensão do que está além do que
podemos ver. Porque se existem mais coisas que ultrapassam nossas realidades
famintas de vidas, essa dimensão mágica podemos criar estendendo nossa
curiosidade infantil para além da maturidade que arrebata a graça de todos
esses sonhos e deseja transformá-la em personagem feito de pedra branca com
olhos de gelo bem transparente.
É bom ser adulto, mas ainda há quem adoraria
voltar ao tempo de criança, e confesso que algumas vezes vou lá dentro desses
sonhos embora hoje prefira esse estado adulto decorado com o material original
daquele tempo líquido de encantamento e empolgação pelas cores do mundo que dá
roupas novas aos dias que criamos.
Todos os nossos personagens podem
sobreviver. A fórmula da vida eterna deles está em nossas mentes. Podemos
deixá-los vivos, seremos seus amigos, irmãos, heróis, rivais, amantes, seus
pais criadores. Teremos o conto do “e assim foram felizes para sempre” sempre
dentro das nossas mãos carregadas de tintas. São essas as crianças que não
podem morrer e não seguem a lógica compromissada do mundo bruto e real, porque
são os imortais que criam a conexão viva das horas.
Agora, vem uma pergunta muito tênue e
movediça e circular: aonde estão nossas crianças reais e interiores que
deixamos em algum lugar, e só agora lembramos delas com a angústia e o medo que
movimentam nossas almas carentes de sonhos e alguma segurança? Minhas crianças
estão aqui ao meu lado, mas também andando pelo mundo, na Turquia, em Israel, no
Afeganistão, Egito, Japão, Índia, Transilvânia, Sibéria e bem ali, quase na
fronteira do Butão com seu índice de felicidade às alturas.